Patrick Lima Prade
- Magaiver Dias
- 9 de mai. de 2020
- 5 min de leitura
Bad Boys Para Sempre (2020)
Se eu tivesse que resumir Bad Boys Para Sempre em uma frase, seria: “Will Smith e Martin Lawrence discutindo por duas horas!”. E não estou exagerando, quem exagerou foi o roteirista. Fiquei com uma leve impressão que ele tentou escrever uma comédia sem graça e inseriu algumas cenas de ação pra chamar a atenção. Não que o filme seja ruim, só não me convide para assisti-lo de novo! As conversar aos gritos entre os dois personagens, no meio de tiroteios e perseguições em alta velocidade são tão repetitivas que tive que olhar o filme em duas partes.
Não aguentei as duas horas na mesma noite. E pode-se dizer que o filme é mesmo dividido em duas partes: nos primeiros 60 minutos vemos como anda a vida pessoal dos personagens, discussões sobre quem está mais velho, em pior forma, quem pinta o cabelo, quem está míope e assim vai, enquanto no resto do mundo, agentes federais são assassinados pelo vilão em cenas tão rápidas que me pergunto se não foi proposital, pra sobrar mais tempo pras piadas sem graça da dupla de tiras. Cinco membros são assassinados em menos de dois minutos de filme, mal dando tempo de ver a cara dos atores. Enquanto isso Mike e Marcus discutem por lenços umedecidos. Mas vamos com calma, me adiantei um pouco e não estou contando a história direito, igual ao diretor do filme.
O Começo
25 anos depois do lançamento do primeiro filme, Mike e Marcus tem vidas diferentes. Marcus quer se aposentar e acabou de se tornar avô. Mike ainda quer ação e continua solteiro. No começo do filme vemos a vilã, uma bruxa mexicana que está na cadeia, fazer uma policial sangrar só com o poder da mente. Sim, é exatamente isso! Após uma rebelião ela consegue fugir pra Cidade Do México, onde mantém contato com seu filho Armando (Jacob Scipio). Armando nasceu na cadeia e desde então vem se dedicando á ajudar a mãe num plano de fuga e vingança contra aqueles que mataram seu pai, um traficante poderoso, e prenderam sua mãe. Com a lista de nomes, incluindo o de Mike, ele parte para as execuções. Mike sobrevive á tentativa de execução, mas os outros membros da lista não têm a mesma sorte. Depois de meses no hospital (única hora do filme em que os dois ficam em silêncio, para o bem do público), Mike sai recuperado e disposto a pegar o assassino.
Depois de muito brigar com Marcus, os dois entram para uma equipe de investigadores com quatro membros caricatos para seguir as pistas. Nesse grupo está Vanessa Hudgens (de High School Musical), mas ela deve ter no máximo cinco falas o filme inteiro, afinal, precisa deixar tempo pra Will e Martin discutirem, não há necessidade dos outros personagens falarem. Depois tem algumas perseguições em alta velocidade, onde o trânsito parece se abrir para a dupla de tiras, já que Will Smith dirige á 160 km/h sem olhar pra frente, e sim olhando pra Martin Lawrence e discutindo sobre Buda e promessas á Deus. Tem também as tradicionais trocas de tiros entre heróis e bandidos, onde bandidos esperam os heróis terminarem discussões sobre os óculos de Marcus antes de atirarem pra todos os lados, menos nos dois. Como tradicionalmente acontece em filmes do tipo, e esse tem mais clichês que comédias românticas, Marcus se aposenta e a equipe é afastada do caso. Então já sabemos: o detetive sempre tem que ser afastado do caso para conseguir resolver o caso. É regra de Hollywood, e foi usada aqui também, assim como a regra do caricato capitão gritão e mal humorado, interpretado por Joe Pantoliano (de Amnésia e Matrix).
A Conclusão
A equipe então parte para a Cidade do México para encontrar a bruxa e seu filho Armando. Mais clichês se apresentam e mais tiroteios, a dupla fica frente á frente com os dois vilões, e essa parte salva o filme. Segredos são revelados e a trama ganha um pouco de sentindo, e até um pouco de emoção. Terminada a missão, cada um volta á sua rotina: a equipe é reintegrada á polícia, Marcus volta para a família e Mike parece finalmente se deixar apaixonar por Rita, uma das integrantes de sua equipe. O filme termina com uma discussão idiota sobre Mike cuidar do neto de Marcus, e o que poderia ser o encerramento, no geral bom, de uma trilogia, é interrompido com uma cena pós-crédito que indica uma futura sequência, infelizmente confirmada para 2022.
Sei que cinema serve pra divertir (eu particularmente adoro a franquia Velozes e Furiosos e Transformers), não estou criticando o gênero, só que Bad Boys (1995) fez sucesso pela química dos personagens e foi bem mais realista, nesse terceiro filme eles partiram para a comédia e cenas previsíveis. Certo que fizeram o filme para arrecadar dinheiro e não para ser realista, se quisessem realismo teriam feito algo baseado em fatos reais. O que me deixou frustrado foi que embora a dupla estivesse trabalhando junto há mais de vinte anos, passa a sensação de que eles acabaram de se reencontrar e resolveram lavar a roupa suja e zoar um com o outro justamente durante uma missão perigosa. Em uma cena absurda, o corpo de uma vítima cai em cima do carro de Marcus e a preocupação dele é como vai explicar aquilo para a esposa. Um informante que tinha coisas á dizer para ele é assassinado e ele preocupado com o carro. Mais absurdo ainda é quando eles conseguem capturar um suspeito durante uma fuga. No lugar de interrogar o bandido, eles discutem sobre apertar uma inflamação na testa do homem. Cercados por bandidos em motos prontos para matá-los, eles estão preocupados em apertar a tal bola na testa do homem. Deu vontade de pular a cena.
Informações
Bad Boys Para Sempre é dirigido por Bilall Fallah e Adil El Arbi, ambos poucos conhecidos e esse é seu primeiro grande filme comercial, talvez por isso tantas cenas previsíveis. O diretor dos dois filmes anteriores (Michael Bay) parece ter aprovado o resultado final, pois faz uma participação em uma cena durante o casamento da filha de Marcus, outra cena desnecessária. Will Smith é um ótimo ator, chamando atenção para dramas como Á Procura Da Felicidade (2006), Sete Vidas (2008) e Beleza Oculta (2016), mas quando se trata de filmes de ação, parece estar sempre interpretando o mesmo personagem, seja enfrentando aliens (Independence Day, 1996), robôs (Eu, Robô, 2004), monstros (Eu Sou a Lenda, 2007), ou até um clone de si mesmo (Projeto Gemini, 2019). Martin Lawrence vai pelo mesmo caminho: tenho a impressão que ele só sabe interpretar policiais abobalhados que resolve os casos por sorte e não por talento, como em Um Tira Muito Suspeito (1999), Segurança Nacional (2003), e a trilogia Vovó...Zona (2000-2011).
O resto do elenco mais jovem está super á vontade, Vanessa Hudges está linda e natural, pena que não foi bem aproveitada. Charles Melton (da série Riverdale) é o que tem algumas das melhores tiradas do filme, e Alexander Ludwig (da série Vikings) também está ótimo como o brutamontes sensível que é gênio em informática. Se tiver mesmo um Bad Boys IV, que eles estejam de volta, assim o filme talvez tenha uma chance de ser razoável como esse terceiro.

Comments