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Patrick Lima Prade

  • Foto do escritor: Magaiver Dias
    Magaiver Dias
  • 19 de abr. de 2020
  • 5 min de leitura

A Hora Do Lobo

No meio de tantas adaptações, sequências desnecessárias e remakes, A Hora Do Lobo é aquela agradável surpresa original e com baixo orçamento, mostrando que nem todo bom filme precisa de efeitos especiais que tonteiam ou de custar milhões aos estúdios. O filme é praticamente ambientado em um pequeno apartamento imundo em um bairro decrépito em Nova Iorque, e se passa no verão de 1977, um dos anos mais quentes dos EUA e que ficou conhecido como O Verão De Sam. Poucos personagens e quase nenhuma história fazem do filme um ensaio sobre a solidão e o medo, num cenário que poderia ser muito bem adaptado para uma peça de teatro. O que torna o filme tão especial é justamente essa falta de propósito: ele não foi feito para atrair pessoas ao cinema e nem virar febre nas redes sociais. O filme se destaca na sua simplicidade e o telespectador é levado a acompanhar a rotina da personagem por pouco mais de 90 minutos, que passam rápido devido á expectativa de se descobrir o que realmente está acontecendo na vida da solitária mulher. Além de abordar temas como agorafobia, depressão e violência social, o filme ainda nos traz ligações com os fatos que marcaram aquele verão de 1977 na vida real: o Filho De Sam, um serial killer que aterrorizou Nova Iorque, e o grande Apagão de 1977, que deixou Nova Iorque completamente ás escuras, num dos maiores blecautes da história. Pequenos pontos interligando esses e outros fatos acontecidos de verdade, dão ao filme um ar ainda mais realista, reforçado pela excelente interpretação de Naomi Watts, que merecia um reconhecimento maior pelo seu trabalho, tanto nesse filme como em produções anteriores.

A História

June foi uma famosa escritora que lançou seu best-seller e viveu dias de glória dando entrevistas para a TV e vendendo várias cópias, mas um acontecimento devido ao lançamento de seu livro fez com que sua família cortasse os laços com ela e sua carreira ruiu. Sem inspiração para escrever um novo romance, ela vai morar no apartamento de sua avó falecida, em um bairro pobre de Nova Iorque. Nesse local ela se sente segura, e acaba desenvolvendo agorafobia, um medo incontrolável de lugares abertos. Presa numa solidão auto-imposta, June recebe apenas o entregador do mercado, a visita forçada de sua irmã que lhe empresta dinheiro, um policial que atende seu chamado e um garoto de programa em um momento de carência afetiva. Todas essas visitas são cheias de medo e deixam June ainda pior. Ela desenvolve amizade com Freddie, o entregador, e ele lhe faz favores em troca de dinheiro. Sem trabalho, ela resolve deixar as diferenças com a família de lado e recorre à irmã para pedir dinheiro emprestado para pagar o aluguel, e com sua visita, certas mágoas vêm á tona. Volta e meia seu interfone toca e ninguém fala, nem ela tem coragem para descer e ver quem é por conta de sua fobia e pela violência no bairro. Com a perturbação do interfone dia e noite, ela liga para a polícia e uma semana depois recebe um policial que vem pegar seu depoimento. Novamente o encontro causa medo e tensão entre os dois personagens, nos levando a refletir que o medo do mundo lá fora não é tão absurdo assim. O único que vai verificar quem toca o interfone é o garoto de programa que ela contratou de um anúncio no jornal, e ele não encontra ninguém, sugerindo que alguém quer enlouquecer June. Entre uma visita e outra, June passa seus dias bebendo, fumando e tentando escrever, além de ouvir rádio, que lhe mantém informada sobre a alta temperatura que já matou várias pessoas de insolação. Ouve também as últimas informações sobre o Filho De Sam e seus assassinatos e cartas enigmáticas enviadas para redes de TV. Como dito, o filme não tem uma história central, as coisas vão acontecendo e você só quer saber como termina. Vale á pena ir até o final, mesmo não sendo o filme indicado para ver com amigos, mas ótimo para assistir sozinho numa noite fria, sem pretensão, apenas para reflexão e um pouco de conhecimento sobre a natureza humana.

O Verão De Sam

Como se não bastasse o calor matando várias pessoas, em 1977 Nova Iorque enfrentava um dos seus maiores enigmas: o Filho De Sam, como ficou conhecido David Berkowitz, um psicopata que agiu por mais de um ano, matou seis pessoas e feriu outras sete usando sempre uma calibre .44, o que lhe deu apelido também de O Assassino Da Calibre .44. Inicialmente não se sabia a identidade do Filho De Sam. Quando os crimes começaram, em 1976, David matava sempre mulheres de cabelos pretos e compridos que estavam sozinhas ou acompanhadas por namorados em carros ou ruas escuras. Esse perfil das vítimas fez com que mulheres em pânico cortassem os cabelos ou pintassem de outras cores com medo de serem as próximas vítimas. Em agosto de 1977, um mês após o grande apagão, a polícia prendeu David graças a uma multa de trânsito. Em seu apartamento encontraram pinturas satânicas nas paredes, um diário onde falava dos crimes, a calibre .44 e uma nova carta onde prometia novos assassinatos, como as que ele enviava para a polícia e redes de TV, sempre após um homicídio. David culpou Sam, o cachorro da vizinha, dizendo que um demônio no cachorro o mandava cometer os crimes. Condenado á 365 anos de prisão, ele tentou o suicídio na cadeia, mas hoje se converteu e diz que Jesus o salvou. Irmão Dave, como é conhecido pelos colegas de prisão, ainda está cumprindo pena sem o direito de liberdade condicional.

O Apagão De 1977

Com o calor batendo recordes no ano (na Grécia chegou aos 48°, recorde de maior temperatura registrada na Europa), a venda de ventiladores e ares-condicionados aumentou, aumentando também o consumo de energia no estado de Nova Iorque. Na noite de 13 de julho de 1977 um apagão histórico deixou praticamente todo o estado ás escuras. As pessoas revoltadas saíram para as ruas, o que levou á um grande número de assaltos, saques a mercados e lojas, e centenas de incêndios criminosos. Aproximadamente 3.000 pessoas foram presas e quase 100 policiais foram feridos em serviço. Acredita-se que o Apagão de 1977 foi responsável também pela popularização do gênero hip-hop, já que sem dinheiro para comprar os equipamentos, os jovens do Bronx aproveitaram a escuridão para roubar os equipamentos musicais das lojas, podendo assim fazer suas músicas.

É nesse cenário que se passa a ação de A Hora do Lobo: entre um crime e outro cometido pelo Filho De Sam, durante um calor infernal e chegando ao seu ápice na noite do Apagão, a história de June nos hipnotiza e nos faz pensar sobre a fragilidade da mente humana, capaz de construir prisões para si mesmo e não controlar seus próprios medos. Em época de quarentena, é para se refletir e muito sobre o assunto.

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