Transsexuais revelam os bastidores da prostituição em Cachoeira do Sul
- Magaiver Dias
- 4 de dez. de 2019
- 4 min de leitura

Garotas do Coletivo LGBT Nickolle Rocha contam sua experiência nas noites cachoeirenses | Foto: Divulgação
O Jornal A Notícia entrevistou algumas garotas do Coletivo LGBT Nickolle Rocha de Cachoeira do Sul, para conhecer os bastidores do “mundo trans” no município. A transsexual Luciana Magalhães, 30 anos, Verônica, 29 anos e o ex-transsexual Claudinho Teixeira, 34 anos e outras duas meninas que preferiram não se identificar, revelaram alguns segredos das noites cachoeirenses.
Para Verônica e Luciana a prostituição não foi uma escolha profissional, faltam oportunidades no mercado de trabalho para as transsexuais em Cachoeira do Sul. “Nunca me deram oportunidade, já realizei diversos curso de capacitação como cabelereira, artesanato, desenho e organização de eventos, já deixei diversos currículos pela cidade e nunca fui chamada nem sequer para uma entrevista. Já trabalhei em Caxias do Sul em um supermercado e em uma creche. Precisamos nos prostituir para sobreviver”, destacou Luciana.
Já Verônica transsexual há oito anos, possui cursos de atendente, estoquista, crediarista e de informática e nunca obteve a oportunidade de ser inserida no mercado de trabalho. “Já entreguei diversos currículos, nunca fui chamada. Sempre busquei me qualificar para quando a oportunidade surgir, mas infelizmente ela nunca apareceu. Quero muito trabalhar com meus direitos trabalhistas garantidos, o que na noite não existe”, concluiu.
“As pessoas nos enxergam como objetos sexuais, nós LGBT podemos trabalhar normalmente como as outras pessoas trabalham”, afirmou Claudinho.
Preconceito
Claudinho já foi vítima de preconceito, fato que causou a sua perca de visão. “Até 10 anos atrás era conhecida como Elén Araújo e trabalhava em um salão de beleza em Cachoeira do Sul. Acabei sendo vítima de preconceito em uma casa noturna e perdi a minha visão. Sofri com a depressão por muitos meses, e por final acabei deixando de ser transsexual. A sociedade tem uma visão muito preconceituosa para com as pessoas transsexuais”, destacou.
Assédios
Uma das garotas que preferiu não se identificar revelou sobre os assédios que as transsexuais recebem pelas ruas da cidade. “Alguns homens nos passam cantadas na rua, outros mais abusados passam a mão-boba. É difícil sair na rua sem receber algum tipo de assédio, tem dias que recebemos mais de 10 abordagens “, destacou.
Bastidores da prostituição
Outra garota que também preferiu não se identificar revelou alguns segredos dos bastidores da prostituição no município. “Hoje em dia ninguém mais vive na noite, atualmente eu realizo cerca de 10 programas por dia, nos mais diversos horários. Muitos marcam por whatsapp e outros via um site de relacionamento. Realizamos mais programas nos 15 dias iniciais do mês, quando todos estão com dinheiro no bolso”, destaca.
Segundo ela a discrição e o sigilo são os primeiros pedidos dos clientes. “O sigilo é absoluto, geralmente os que nos procuram pela primeira vez são os que possuem o maior receios, mas depois na segunda vez já estão bem mais calmos”, afirmou.
“Os clientes são de todas as classes sociais e buscam realizar os mais diversos fetiches. Já realizei programas com homens versáteis e criativos. Atualmente tem nos procurado para a inversão de papéis, precisamos ser ativas e passivas, caso contrário não teríamos clientelas. Outro fato que tem aumentado consideravelmente é a quantidade de casais que nos procuram, antes era um por mês, agora é todo o final de semana. Os homens nos procuram durante o dia e trazem a esposa a noite para realizar os mais diversos fetiches. São raros os casos em que só a mulher nos procura, na maior parte das vezes, pós traição do marido”, destaca.
“Os homens que mais nos procuram são os que trabalham durante a noite, são os que possuem uma forma melhor para se justificar com as duas mulheres por estar na rua até tarde”, afirmou.
Surpresas
A garota que já está há 12 anos na prostituição revela que a sua maior surpresa durante um programa, foi entrar no quarto e encontra um homem vestido de mulher, com peruca, maquiado, meia-calça e salto alto. Já outra que está há oito anos nas ruas revela que um cliente pediu para que defecasse em uma toalha de papel. “Quando ele me pediu isso fiquei assustada, não esperava isso, lembro que pedi um valor bem mais alto pelo programa para fazer isso, ele pagou e não reclamou. Enrolou as fezes e guardou no porta-luvas do carro”, afirmou.
Agressões
Uma das garotas revelou que existem muitas dificuldades para as meninas que fazem ponto na rua durante a noite. “Precisamos ter muita coragem e sangue frio. Já fui ameaçada por facão e arma de fogo, uma vez até pensei que seria assassinada”, afirmou.
Ela ainda relata que na época de final de ano as agressões aumentam. “Em uma noite fui agredida duas vezes, é difícil para nós voltar no outro dia. Os homens passam e atiram garrafas, copos, foguetes e até bombinhas. Sem falar nas agressões verbais e psicológicas.
Programas
Os programas custam em torno de R$ 150,00 a hora, atualmente cerca de 20 transsexuais trabalham na prostituição em Cachoeira do Sul, elas costumam ficar em alguns prontos tradicionais como na Praça da Caixa D’agua, Esquina da Ivo Becker com Av. Brasil, Esquina da Roberto Danzmann com Av. Brasil, Esquina da Saldanha Marinho com Milan Krás.
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