Paulo Ribeiro

Asas à imaginação

Minha geração foi uma das últimas a viver o encanto dos sebos que comercializavam revistas na cidade, me recordo de dois que representavam pequenos templos dos sonhos para uma juventude que adorava ler histórias em quadrinhos: um na cinco esquinas e outro próximo à sede social do Grêmio Náutico Tamandaré. Além de venderem gibis, o comércio dessas revistas também permitia a troca posteriormente à leitura, para isso o comerciante fazia um cálculo do material recebido e estipulava um valor total para seu cliente levar para casa em mercadorias.

Mas não eram apenas as crianças e os adolescentes que amavam os gibis, a velha guarda também se divertia com revistas tipo Tex e outras com temática adulta. Me recordo que meu pai adorava ler as aventuras do velho oeste, estimulando seus filhos ao saudável hábito de decifrar as letras à medida que se admirava os desenhos nos quadrinhos.

Mas não era apenas as revistas antigas que povoavam nossos sonhos, a cronologia atual também nos fascinava. Tínhamos a Aquários e a Nascente, essa segunda até hoje em atividade no velho endereço na descida da Saldanha Marinho. As revistas do Conan sempre foram muito aguardadas todos os meses, elas vinham num formato maior, traziam estórias que geralmente tinham fim no mesmo exemplar; suas capas eram verdadeiras obras de arte da cultura popular, alguns desenhistas inclusive eram especialistas em ilustrar o design de apresentação de cada uma delas.

Sei que se trata de saudosismo, mas jamais cruzo pela cinco esquinas sem deixar de me recordar do velho sebo que por ali existia ao olhar na direção do velho prédio. Era um tempo onde nossas mãos viravam as páginas de gibis numa atmosfera propícia para a mente dar asas à imaginação, o que posteriormente lapidou a capacidade de concentração e promoveu o senso crítico.