Sonhar não custa nada
- Nilton Santos
- 31 de mai. de 2019
- 2 min de leitura
O presidente, ao convocar a população para ir às ruas apoiar as reformas, ao mesmo tempo em que jogou pressão sobre os congressistas, confessou que o governo falha na articulação política. Nosso sistema de governo necessita da maioria para obtenção de aprovação de qualquer projeto enviado pelo executivo ao congresso. É simples: se tem maioria, o governo aprova o que quer, se não, tem que negociar, e negociar exige paciência entre avanços e recuos. As declarações de Bolsonaro e filhos jogadas nas redes sociais têm criado um clima de animosidade com deputados e senadores, acostumados aos agrados para aprovar as matérias que lhe são submetidas.
Os mais de 57 milhões de votos recebidos pelo presidente só lhe garantem o cargo, não a governabilidade que se viabiliza pela negociação, por aqui às vezes pouco ou nada republicana. É o sistema. Em campanha é fácil prometer que se vai fazer isso ou aquilo, depois, no comando, o poder dos votos é relativo, já que nada anda sem o apoio parlamentar. É obvio que não se pode dirigir o país conclamando o povo às ruas a cada vez que um projeto do governo emperre na câmara ou senado. É indispensável uma articulação política eficiente para que as coisas avancem.
Não vou discutir se os protestos de domingo foram sucesso ou fracasso, mas não é possível que, a cada impasse, se conclame o povo para ir às ruas pressionar os congressistas. É preocupante a dificuldade de diálogo entre o executivo e o legislativo e nisso as redes sociais, como elemento novo no cenário político, pelos dedos nervosos da família Bolsonaro, têm atrapalhado mais do que ajudado o governo. Além da reforma da previdência e o pacote anticrime de Moro, outras questões fundamentais precisam ser encaradas como interesse da nação e não como moeda de troca por mais poder. Sonhar não custa nada.

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