O velho mestre
- Paulo Ribeiro
- 31 de mai. de 2019
- 2 min de leitura
O professor Marco Antônio Guidugli já não tem a mesma destreza de outrora, quando gritava ao redor dos campos de futebol orientando crianças e adolescentes, pedia marcação, aos gritos exigia que houvesse troca de passes, coordenação. Quando a bola era chutada para longe corria como uma flecha para buscá-la. Hoje, o velho mestre caminha vagarosamente pelas ruas do Centro, está grisalho, com uma vasta barba que simboliza sabedoria no imaginário popular.
No último final de semana foi muito estranho vê-lo sentado num banco numa delegacia de polícia com olhar triste. Durante décadas Guidugli orientou várias gerações de crianças e adolescentes (entre elas a minha) a praticarem a cidadania, ficando longe das drogas, serem honestas e praticarem o bem ao próximo. Hoje, já idoso, o velho sábio foi assalto duas vezes em menos de uma semana no Centro, sendo preciso ir à polícia para o registro das ocorrências. Uma triste ironia do destino ser vítima de um sistema contra o qual passou a vida inteira a lutar, preconizando os bons princípios morais, de retidão de caráter.
O velho mestre não falhou em sua missão, muito pelo contrário. O que acontece hoje é uma amostragem clara de que ele tinha razão quando se preocupava com seu povo e de forma voluntária procurava conscientizar a gurizada, foi um profeta de seu tempo.
A figura do velho sábio sentado num banco da praça simboliza uma pessoa que dedicou sua vida contra um sistema que o derrubou duas vezes semana passada, mas não o nocauteou. Guidugli permanece vivo, com sua memória privilegiada e lucidez intacta em defesa da paz. Todos precisamos de paz, mas ela não está acessível o tempo inteiro. Já dizia Gandhi em recuadas eras do passado: "A história ensina que aos homens ela nada ensina". Pelo menos para alguns deles.

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