Cleber Lima
- Cleber Lima
- 31 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Bobo
Quando se fala em Bobo a primeira imagem que nos vem à cabeça é daquela figura anã, com roupas esdrúxulas, de postura satírica, responsável por fazer micagens e palhaçadas com o intuito de levar o Rei e sua corte ao riso facilmente. Todavia, esta figura artística merece uma análise mais profunda... e assim, observei que a necessidade de existência de uma pessoa com esta função no espaço de Poder era necessário por inúmeros aspectos.
A exaltação da monarquia sobre uma determinada classe social era figurada na imagem do bobo. Seu sofrimento, sua postura desajeitada, seu físico, tudo isso era uma forma de enaltecer a imagem do poder que, do alto de seu status quo, jamais se igualava aos erros do bobo. Quando o bobo caía era um espetáculo de inúmeras gargalhadas, reconhecendo a ignorância daquela criatura em não ver o degrau a sua frente. Quando o Rei sofria o mesmo, os degraus é que foram colocados no lugar errado! O bobo andava com vestimentas ridículas, o Rei lançava moda! Entretanto, nem tudo era tão ruim na figura do bobo.
De todos os membros da corte, o único que podia fazer graça da imagem do Rei ou da monarquia era o bobo. Afinal, ele era o bobo, logo suas palavras não tinham poder de influência. Suspeito que tenha sido daí que nasceu a recíproca: “Brincando, brincando é que se dizem as verdades!”. Ao longo da história foi a ciência das artes quem interpretou a atuação artística destes e de tantos outros que, através de sua arte, denunciaram e conduziram seus pares a reflexão do que estava acontecendo a sua volta. Recordo-me de um episódio que li ou que me contaram quando era jovem, que envolvia essa “persona dramática”, o qual narro para deleite do leitor:
“Em um reino, tão, tão distante, havia um grande monarca que possuía um espírito de porco daqueles. Sua postura era incômoda. Desdenhava de todos, fazia troça de tudo, não possuía a postura de realeza que o cargo lhe exigia. Quando seu mordomo adentrava a porta com informações que lhe interessavam, perguntava quem havia tirado o pinguim da geladeira. O coitado do bobo então, esse não tinha sossego nunca! Certo dia o Rei do alto de sua bestialidade resolveu humilhar um pouco mais o bobo. Decidiu oferecer um jantar, no qual convidou toda a corte, a aristocracia, os embaixadores de nações amigas, enfim, uma gama de pessoas para presenciar mais uma de suas ridicularidades. Logicamente, o bobo também foi convidado!
Combinou com todos deveriam chegar antes do horário em seus convites. No dia e hora marcados, explicou que o jantar seria sopa, e que junto à mesa todos haviam recebido colheres para degustar a iguaria, contudo, apenas um convidado receberá um garfo – o bobo - e pediu que todos lhe prestassem a atenção quando falasse. Tão logo o bobo chegou, todos foram à sala de jantar e o Rei lascou de seco: “Informo aos presentes que todo aquele que não for capaz de saborear esta magnífica sopa, será considerado o maior idiota do reino!”. Imediatamente todos se puseram a tomar a sopa, exceto o bobo, que olhou para um lado, olhou para outro e viu que só possuía um garfo. “E agora?” Pensou.
Imediatamente pegou um pedaço de pão, tirou o miolo e começou a comer. Depois, fincou a casca do pão no garfo e se pôs em pé aos brados: “Com Vossa licença Majestade, autoridades, embaixadores... Maior idiota do reino será, aquele que depois de ter saboreado tão distinta iguaria não fizer como eu e comer o talher que usou para tomar a sopa!”.
Uma feliz e abençoada semana a todos!

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