Paulo Ribeiro
- Paulo Ribeiro
- 26 de abr. de 2019
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A cidade chora
Não sei em quais circunstâncias uma mãe e seu filho foram baleados, poucas horas antes de eu escrever essa coluna. O crime ocorreu na madrugada de quinta-feira, no Bairro Santo Antônio.
O texto dizia que homens encapuzados invadiram a residência da família e alvejaram ambos com tiros de calibre 12 e 9 milímetros, na Rua Silvio Scopel. Na mesma semana, um ex-vereador morreu no hospital, não resistiu às sequelas de facadas desferidas pelo próprio filho durante uma luta corporal. Também durante a semana que se encerra, um professor da rede municipal de ensino é afastado de suas funções, sob suspeita de pedofilia.
A pacata cidade de minha infância morreu ou estaria adormecida num pesadelo momentâneo que um dia vai passar? Fico a me questionar. Minha geração brincava à noite na Rua Aparício Borges. Íamos até às 22:00, 22:30 durante os verões, sem que nossos pais tivessem qualquer preocupação. Me recordo de rodas de amigos sentados nas calçadas contando casos entre risos e sonhos. Olhávamos para o céu à procura de disco voador, contávamos estrelas.
Aquela cidade não existe mais, e na verdade a mudança foi geral. As praças eram das crianças, a Honorato fervilhava aos domingos, hoje agoniza, sufocada pelo grande movimento que se formou por ali por conta da intensificação do comércio. "Muito perigoso atravessar pela Bonifácio à noite", alguém me diz, justamente onde se localizava o mágico encanto da dança das águas que fazia nossos olhos brilharem de felicidade por um tempo que ficou guardado na memória e, infelizmente, insiste em não voltar.
Embora passemos o tempo inteiro criticando o poder público por uma infinidade de demandas não cumpridas, a cidade de nossos sonhos depende também muito de nós próprios como povo. Podemos começar agora mesmo: defendendo a paz.

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