Paulo Ribeiro

As Cinco Esquinas

Para muitos, o tradicional cruzamento com cinco ruas é o marco divisório entre as zonas sul e norte da cidade, local por onde cruzam milhares de pessoas todos os dias, quer seja a bordo de veículos ou mesmo a pé.

Me recordo quando era adolescente de ir seguidamente ao local, um dos meus primeiros pontos de referência para leitura. Num pequeno prédio à esquerda no sentido bairro-Centro havia uma revistaria que comercializava gibis velhos, as chamadas histórias em quadrinhos.

Uma sinalização na parte superior da parede frontal dizia: “Revistolãndia Cinco Esquinas”, onde levávamos dois gibis para trocar por algum outro que ainda não havíamos lido. Era uma época onde se lia mais, sobretudo no formato papel.

Com o passar dos anos os gibis foram saindo de moda, e a pequena loja dos sonhos fechou suas portas. Hoje, vários anos depois, me recordo daqueles tempos ao ler via imprensa que a Prefeitura pretende desapropriar o velho imóvel para alargar as cinco esquinas com o intuito de melhorar o fluxo de trânsito no local.

Vem um filme à memória. Durante muitos anos, o prédio esteve abandonado, com uma aparência horrenda, mas agora ganhou uma limpeza, suas paredes foram pintadas e os defensores do patrimônio histórico têm a esperança de que o Executivo desista da ideia de tirá-lo do cenário local.

Alguém precisa, às vezes, ter uma iniciativa para nos darmos conta de que é necessário preservar a história com a manutenção dos prédios antigos. Isso acaba pondo em atrito aqueles que adoram manter as antigas edificações em sua originalidade e os que sonham com novos designs no horizonte.

Nos últimos anos, Cachoeira do Sul tem sido bem recorrente nesse tipo de debate entre figuras técnicas e os apaixonados de sempre. Em alguns casos são encontrados um denominador comum, como na preservação do frontão de alguns prédios históricos tendo ao fundo novas edificações, mas o pequeno imóvel das Cinco Esquinas ensina que nem sempre isso é possível.