Nilton Santos
- Magaiver Dias
- 5 de abr. de 2019
- 2 min de leitura
Chegou a conta da reforma
Nosso sistema político só funciona pela negociação, muitas vezes nada republicanas. Seria ótimo que as conversas se estabelecem sob a premissa do interesse público, mas na prática, a teoria é outra. Os interesses pessoais e de grupos é que dão o tom dos ajustes em Brasília.
Bolsonaro se elegeu sob a promessa de mudar essa lógica, pensando que os mais de 57 milhões de votos que recebeu lhe permitiria aprovar o que bem quisesse, sem precisar barganhar. Ledo engano. As discussões em torno da reforma previdenciária demonstram que o presidente tem muito menos poder do que pensava.
Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, sob a desculpa de estar ofendido pelos comentários do filho do presidente quando da prisão de Moreira Franco, padrasto de sua mulher, abandonou a articulação política para aprovar a reforma da previdência.
Deixou o presidente de calças curtas. Bolsonaro, que por mais de 20 anos foi parlamentar, devia saber que sem negociação, entenda-se: sem atender os interesses dos caciques da nossa política, nada anda, muito menos uma reforma que mexe profundamente nos interesses de milhões de trabalhadores e aposentados. Devia também saber a diferença entre campanha política e governo. Para conquistar o voto, muito se pode dizer e prometer, governar são outros quinhentos.
No sistema atual em que prepondera o toma lá, dá cá, terá que fazer concessões se quiser colocar em prática seu plano de governo. Do contrário, nada andará sem a benção dos congressistas que, como hienas, farejam a quilômetros o sangrar da presa. O governante se desgasta mais pelas promessas não cumpridas do que pelas concessões que faz para tocar o seu projeto. É bom o presidente já ir se acostumando com isso. Para nós, resta pagar a conta dos agrados que terá que fazer.

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